História

Luiz Fogaça Balboni, carinhosamente chamado de Zizo por nós, nasceu em Itapetininga no dia 25 de maio de 1945, filho de Luiz Balboni e Francisca Áurea Fogaça Balboni. Viveu até os 10 anos de idade na fazenda do seu pai, no município de São Miguel Arcanjo. Começou seus estudos lá mesmo e terminou o estudo primário no Grupo Escolar José Gomide de Castro, na cidade de São Miguel Arcanjo em 1955. Como não existia ginásio na cidade, precisou sair de casa pra continuar os estudos, com quase 11 anos de idade. Foi então matriculado no Colégio Arquidiocesano de São Paulo, após haver feito testes para saber se poderia ser aproveitado. Ali fez o 1º e 2º ano do ginásio. Menino criado livre na fazenda, saudável e forte, não se acostumou com o internato do colégio.

Foi então transferido para Itapetininga, onde terminou o ginásio em 1959, concluindo também o curso colegial. Mais tarde foi morar na casa do avô materno, Vital Fogaça de Almeida, em São Paulo, para fazer o cursinho Anglo, que fez em dois anos, tendo conseguido bolsa de estudo para o segundo ano. Depois entrou na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, para estudar Engenharia de Minas onde cursou por outros dois anos. Ele se desinteressou pelo curso, trancou a matrícula na faculdade e começou a trabalhar. Pensava em fazer arquitetura.

Estávamos em 1968. Nessa época, a ditadura militar que havia se estabelecido em 1964 estava recrudescendo suas atividades, decretando atos institucionais que cerceavam as liberdades básicas dos cidadãos e praticamente autorizava o Estado a matar em seu nome, cometer todo tipo de atrocidade para se manter no poder.

Para resistir a esse estado de violência, o Zizo se engajou no movimento estudantil. Logo percebeu que manifestações de protestos contra o regime militar não tinham força suficiente para mudar aquele cenário.

Ele, como muito outros jovens idealistas, comunistas, socialistas, anarquistas, decidiram entrar para a luta armada para derrubar a ditadura opressiva e abrir caminho para um modelo novo de sociedade de seus sonhos.

Veio a falecer no dia 25 de setembro de 1969, aos 24 anos, ao resistir a uma emboscada preparada pelas forças de repressão.

No inicio dos anos 90, quando estávamos retomando o Estado de Direito, foi decretada a Lei de Anistia, e como conseqüência, muitos exilados políticos começaram a retornar ao país. Naturalmente muitos deles retornaram as atividades parlamentares e se elegeram deputados, senadores e governadores de estado.

O então exilado ex Governador Miguel Arraes de Alencar foi eleito então outra vez Governador do Estado de Pernambuco e logo depois que assumiu o mandato, criou a Comissão de Familiares de Mortos e Desaparecidos Políticos, Instituto de Estudo da Violência do Estado, IEVE. Através do Grupo Tortura Nunca Mais SP, enviamos uma foto do Zizo juntamente com um pequeno histórico de suas atividades políticas, que foi publicado no livro Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a Partir de 1964 na página 70, que recebemos no dia 22 de fevereiro de 1996. Ficamos muito emocionados, pois foi a primeira vez que conseguimos inserir o Zizo no rol de pessoas assassinadas pela ditadura militar. A luta para saber o que havia ocorrido e restabelecer sua imagem, marcava seu primeiro tento.

Na seqüência outro exilado político, Fernando Henrique Cardoso, foi eleito Presidente da República e criou uma lei que responsabilizava o Estado Brasileiro, quando da morte de cidadãos nas suas dependências. Foi criada a Comissão que tratava dos Mortos e Desaparecidos. Também por indicação do Grupo Tortura Nunca Mais, registramos o nome do Luiz Fogaça Balboni, o Zizo, nessa comissão.

Em Brasília onde foi instalada a comissão fomos muito bem recebidos e orientados por Nilmário Miranda, Deputado Estadual pelo Partido dos Trabalhadores de Minas Gerais e presidente da Comissão dos Direitos Humanos. Com o Dossiê patrocinado pelo Governador Arraes nas mãos onde consta: “Desde 1968 fazia parte da Ala Vermelha do PCdoB como membro do Setor Universitário. Divergindo da organização, ligou-se em meados de março de 1969 à ALN. Nesse período entrou para a clandestinidade, onde permaneceu até a sua morte. Fuzilado, com 24 anos de idade, ao resistir à prisão, na Alameda Campinas, em São Paulo, no dia 25 de Setembro de 1969, em emboscada montada pelos delegados Sérgio Fleury, Rubens Tucunduva e Firminiano Pacheco. Em entrevista a Revista Realidade, em 1971, Sergio Paranhos Fleury assumiu que viu morrer a sua frente Luiz Fogaça Balboni. O laudo necroscópico é assinado pelos médicos legistas Irany Novaes Maraes e Antonio Valentini.” o Deputado Nimário estabeleceu uma estratégia de apresentar o caso do Zizo, depois de julgarem o caso do ex Deputado Carlos Marighela, fundador e comandante da ALN, que também havia sido morto em emboscada na rua e que evidentemente teria uma repercussão favorável, pois ambos haviam sido mortos fora das dependências do Estado, mas pelo Estado.

Faltava um elo ainda perdido. Em que circunstância e que horas o Zizo foi baleado? Ele foi ferido ou morreu na hora? Quem estava com ele? Quanto tempo a polícia da ditadura ficou com ele, antes de darem entrada no Hospital das Clínicas, apenas 5 a 10 minutos do local do incidente? Perguntas duras e difíceis que precisavam de respostas.

A pista preciosa partiu da Prefeitura de Santos, comandada pelo prefeito David Capistrano, cuja administração abrigava antigos combatentes da luta armada. Estávamos em 1997 quando conhecemos Manoel Ciryllo, última e única pessoa que estava com o Zizo no momento da emboscada. Orientados por Nilmario, o Manoel deu um depoimento na OAB de São Paulo, relatando que quando estavam fugindo da emboscada, o Zizo foi baleado com um tiro nas costas por volta das 15 horas. Fomos remexer os arquivos do hospital e encontramos o prontuário que dava como 18 horas sua entrada na emergência. Portanto ficou provado que houve omissão de socorro e o Estado foi condenado a indenizar a família pela responsabilidade de sua morte.

No dia 06 de fevereiro de 1998 fomos surpreendidos com um deposito de aproximadamente R$ 120.000,00 reais, resultante da indenização paga pelo Governo Federal. Não esperávamos nenhuma indenização, queríamos saber apenas o que tinha acontecido. Foi assim que, em conjunto, mãe e irmãos resolveram investir o recurso da indenização em preservação numa área de Mata Atlântica primária que possuiam. A nossa missão é preservar a sua memória e essa fantástica biodiversidade desse bioma.